Pesquisa brasileira sobre bioestimulante agrícola ganha capa do jornal científico da Inglaterra

Publicado em 16/01/2024 por

Nove pesquisadores brasileiros cravaram seu nome na história ao publicarem na capa do jornal inglês Molecular Omics, produzido pela Sociedade Real de Química, a mais conceituada e antiga do ramo no mundo, com 175 anos de existência, o artigo intitulado Metabolomics analysis reveals stress tolerance mechanisms in common bean (Phaseolus vulgaris L.) related to treatment with a biostimulant obtained from Corynebacterium glutamicum. Traduzido para o português, o título é “Análise metabolômica revela mecanismos de tolerância ao estresse no feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) relacionado ao tratamento com bioestimulante obtido do processo fermentativo de Corynebacterium glutamicum”.

Stephanie Nemesio da Silva, Luis Fernando de Oliveira, Alana Kelyene Pereira, Luidy Darlan Barbosa, Alessandra Sussulini e Taicia Pacheco Fill, do Instituto de Química da Unicamp; Rodrigo Alberto Repke e Rafael Leiria Nunes, da Rovensa Next Brasil; e Fabio Pinheiro, do Instituto de Biologia, também da Unicamp, centraram o estudo na metabolômica, cujo principal objetivo é fornecer uma melhor compreensão das vias bioquímicas envolvidas em diferentes processos biológicos a nível molecular.

A proposta deste inédito trabalho científico, publicado no dia 4 de dezembro, foi mostrar os efeitos do bioestimulante sobre o metabolismo das plantas. No caso, utilizou-se uma cultivar de feijão biofertilizada com Vorax™, produto obtido da fermentação exclusiva da bactéria Corynebacterium glutamicum, cepa MQ06, em melaço de cana-de-açúcar. Único biofertilizante registrado pelo Ministério da Agricultura no Brasil até o momento, Vorax™ é composto, principalmente, por aminoácidos, carboidratos, vitaminas e outras centenas de metabólitos primários e secundários, identificados no estudo.

“A contribuição científica brasileira para agricultura é muito grande e relevante mundialmente. Nossa pesquisa abre um horizonte para o uso de técnicas muito precisas para confirmar o potencial genético e o modo de ação dos bioinsumos que serão utilizados em lavouras de todo o mundo”, ressalta Rafael Leiria Nunes, diretor de Suprimentos e Operações da Rovensa Next Brasil, um dos autores do artigo. Segundo ele, Vorax™ possui uma matriz complexa, o que torna desafiador explicar seu modo de ação e sua alta eficácia comprovada a campo e em diversos outros experimentos.  “Termos feito isso através de estudos de metabolômica foi algo inovador, difícil e complexo”, comemora.

Devido à grande diversidade química e heterogeneidade, determinar o metaboloma de um organismo biológico é complexo e exige protocolos específicos, desde o preparo da amostra até a escolha das técnicas analíticas mais avançadas (quimiometria), assim como a utilização de estratégias mais eficientes de processamento e interpretação dos dados analíticos (molecular networking). “O diferencial deste trabalho é, justamente, conseguir estabelecer uma correlação entre a aplicação de um produto à base de metabólitos de micro-organismos C. glutamicum e os metabolismos da planta, evidenciando-se a resposta dela a partir de seus próprios metabólitos, que são, finalmente, uma inequívoca comprovação da eficácia do bioestimulante”, esclarece o diretor.

Conclusão da pesquisa
Em resumo, a pesquisa concluiu que a concentração de metabólitos específicos aumentou na planta após a aplicação do bioestimulante, especialmente alguns lipídios, aminoácidos e flavonóides associados à tolerância das plantas a condições adversas. Como resultado, a avaliação dos parâmetros de desenvolvimento de P. vulgaris (feijão) tratado com Vorax™ apresentou melhores resultados quando submetido a estresse abiótico (ausência de luminosidade ou deficiência hídrica), indicando um horizonte promissor para o uso dos bioestimulantes, considerando que várias regiões no Brasil e no mundo poderão experimentar condições climáticas com maiores períodos de seca no futuro.