A sustentabilidade deixou de ser uma pauta periférica para se consolidar como um eixo estratégico de competitividade global. O movimento, que há alguns anos era visto como tendência, hoje é tratado como prioridade nas decisões empresariais — tanto na Europa, onde o avanço regulatório impulsiona a transição verde, quanto no Brasil, que passa por um processo acelerado de amadurecimento.
Para Luís Amado, consultor de sustentabilidade na Europa, a transformação é irreversível. “A sustentabilidade, incluindo a eficiência energética, passou a ser considerada um fator fundamental de competitividade e não mais um tema marginal para boa imagem”, afirma. Ele destaca que, globalmente, empresas e governos estão comprometidos com metas de neutralidade de carbono até 2050, o que vem impulsionando a inovação em energias limpas e economia circular.
Na visão do executivo, o consumidor é hoje o principal motor dessa mudança. “São as novas gerações, especialmente a Gen Z, que exigem transparência e responsabilidade ambiental. Essa pressão social se reflete nas cadeias produtivas e força as empresas a incorporarem práticas mais responsáveis em seus negócios.”
Europa como referência
O contexto europeu, segundo Amado, continua a servir de inspiração. Portugal, por exemplo, já tem uma matriz majoritariamente renovável e avança em projetos offshore e de hidrogênio verde. “O país tornou-se referência em transição energética, com metas claras e políticas estáveis que equilibram competitividade e descarbonização”, ressalta.
O especialista também aponta que a digitalização e a inteligência artificial (IA) têm papel essencial nessa jornada. “A IA permite otimizar o consumo, prever demandas e reduzir desperdícios. Na Europa, ela é uma peça-chave para o avanço da mobilidade elétrica e da integração de fontes renováveis.”
Entre as metas da União Europeia, está a redução do consumo de energia em 11,7% até 2030. Para atingir esse objetivo, a Europa aposta em smart grids, economia circular e reaproveitamento de calor industrial — estratégias que vêm transformando a gestão energética em um campo de inovação contínua.
No Brasil, embora o processo seja mais recente, a direção é semelhante. “As empresas brasileiras perceberam que práticas sustentáveis atraem investidores, reduzem riscos regulatórios e fortalecem reputações”, observa Amado. O país também avança em regulamentações, como o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões e as exigências da CVM sobre métricas de carbono auditáveis, o que ajuda a combater o greenwashing e reforça a transparência.
Para Rodrigo Lagreca, CEO da Energia das Coisas, o desafio brasileiro é transformar a inovação tecnológica em ganhos reais de eficiência. “Estamos vivendo uma nova revolução energética, em que sensores, IA e internet das coisas se tornam ferramentas essenciais para reduzir perdas, otimizar consumo e gerar energia de forma descentralizada”, afirma.
Lagreca acredita que o mercado brasileiro reúne um potencial ímpar para liderar soluções de eficiência energética e sustentabilidade aplicada. “Temos uma matriz majoritariamente renovável e uma demanda crescente por automação e controle inteligente. A próxima década será decisiva para conectar o setor elétrico, o agronegócio e a indústria com base em dados e tecnologia limpa”, destaca.
O empresário aponta que as startups têm papel crucial na transição, por serem mais ágeis e abertas à experimentação. “A inovação nasce da integração — e o Brasil está num momento de amadurecimento regulatório e digital que favorece o surgimento de novos modelos de negócio sustentáveis.”
A visão do setor elétrico
Na avaliação de Lino Henrique Pedroni Junior, diretor de Planejamento, Controles e Compliance da CELESC, empresa pública de energia elétrica de Santa Catarina, o tema também ganhou protagonismo nas estratégias corporativas. “A sustentabilidade e a eficiência energética passaram a ser vistas como pilares de competitividade e resiliência. No setor elétrico, essas pautas estão cada vez mais integradas ao planejamento estratégico das empresas”, afirma Lino.
Apesar da matriz brasileira ser mais limpa que a média mundial, Lino reconhece os gargalos: “Ainda há desafios importantes, como a modernização da infraestrutura, a digitalização da rede e a falta de incentivos robustos para inovação tecnológica”.
Segundo o diretor, o setor privado tem avançado com metas de descarbonização, investimentos em mobilidade elétrica, geração distribuída e armazenamento de energia, além de adotar relatórios ASG mais estruturados. “Investimentos em eficiência energética e sustentabilidade geram retorno no médio e longo prazo, seja pela redução de custos operacionais, seja pela mitigação de riscos regulatórios e reputacionais”, ressalta.
Para Luís Amado, o futuro da sustentabilidade será moldado por três eixos: transparência, padronização e tecnologia. “A IA, o desenvolvimento das energias renováveis, as redes inteligentes e a economia circular vão definir a próxima década. As empresas que não se adaptarem perderão competitividade e acesso a capital”, alerta.
No Brasil, a tendência é de convergência entre digitalização, descentralização e descarbonização, como observa Lino. “A agenda de eficiência energética estará cada vez mais conectada à inclusão social e à inovação local, com projetos que gerem impacto ambiental e econômico ao mesmo tempo.”
De Lisboa a Florianópolis, de startups a grandes corporações, a mensagem é clara: a sustentabilidade deixou de ser discurso e tornou-se estratégia de negócio. Como resume Luís Amado, “é possível — e desejável — fazer mais com menos. Isso é sustentabilidade”.