Cinco negócios socioambientais de Curitiba e São Paulo foram premiados com R$ 17.500 cada no encerramento do Programa BioCidades Empreendedoras, realizado nesta quarta-feira (22) no Centro de Eventos IMAP Barigui, em Curitiba (PR). Ganharam o prêmio: Chocolates Macondo, Ingá Orgânicos, Composta Leste, Mandinga Biojoias e Monitorai. Além dos vencedores nas cinco categorias principais, os demais 25 finalistas também receberam um incentivo financeiro de R$ 4.500. No total, foram investidos R$ 200 mil diretamente nos empreendimentos apoiados pela iniciativa, que integra a rede internacional The Restoration Factory e tem como foco apoiar negócios que promovem a restauração de ecossistemas urbanos, o fortalecimento da bioeconomia e a construção de cidades mais resilientes.
Criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela plataforma internacional Bridge for Billions, o BioCidades Empreendedoras foi implementado no Brasil pelo Instituto Legado de Empreendedorismo Social, em parceria com Prefeitura de Curitiba, Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Inovação, Vale do Pinhão, Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação, Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho e Programa Sampa+Rural. A iniciativa também possui apoio técnico da Fundação Grupo Boticário e do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE).
Para Daniela Nunes, gestora da incubação do Programa BioCidades Empreendedoras e coordenadora acadêmica do Instituto Legado, o programa cumpre um papel importante ao apoiar negócios em fase de validação, evitando que boas ideias fiquem represadas por falta de estrutura ou acompanhamento. “Trabalhar com empreendedores de regiões urbanas e periurbanas nos permite entender as necessidades reais desses territórios e oferecer conteúdos, mentorias e experiências alinhadas a essas demandas. O impacto positivo que esses negócios podem gerar para os problemas sociais e ambientais que enfrentamos nas cidades é imenso”, afirma Daniela. “Eles estão propondo soluções ativas para questões que já aparecem no nosso cotidiano, como as mudanças climáticas. O BioCidades é um passo concreto para ajudar esses negócios a se consolidarem e chegarem ao mercado”, completa.
Chocolate artesanal fabricado no Vale do Ribeira por família colombiana vence prêmio de impacto socioambiental
A fábrica de chocolates Macondo, fundada por uma família colombiana que vive no Vale do Ribeira (SP), foi a vencedora da categoria Impacto Socioambiental. O negócio atua com cacau cultivado em agroflorestas da Mata Atlântica e conecta tradição, inovação e regeneração ambiental. À frente da marca está o biólogo e chocolateiro Fares Guarín, que resgatou saberes da avó e da mãe para produzir um chocolate autoral, com insumos locais e embalagens costuradas à mão. A marca abriu sua primeira loja própria em Curitiba e ampliou a produção de 800 quilos para duas toneladas por ano.
“Cada barra nasce do encontro entre as pessoas, a floresta e o propósito”, disse Fares durante o evento. A Macondo trabalha atualmente com quatro famílias produtoras em 30 hectares de agrofloresta e projeta, com o apoio do prêmio, ampliar para até dez famílias e cinquenta produtores.
A tradição do chocolate acompanha a família de Fares há gerações, mas foi interrompida nos anos 1990, quando o conflito com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) obrigou a mudança das montanhas andinas para a cidade de Medellín. Vieram para o Brasil depois que Feres foi estudar biologia no Paraná.

Imagem: Divulgação/Chocolates Macondo
Negócios de alimentos orgânicos e compostagem levam prêmios de impacto local
Na categoria Impacto Local Curitiba, o prêmio foi para a Ingá Orgânicos, empresa que atua com entrega de cestas orgânicas por assinatura. Trabalha com pequenos produtores agroecológicos e tem foco no fortalecimento de cadeias produtivas regenerativas na Mata Atlântica. Além das cestas, desenvolve projetos ligados à alimentação saudável, conservação e segurança alimentar.
Em São Paulo, o prêmio de Impacto Local foi entregue à Composta Leste, negócio que atua com coleta e compostagem de resíduos orgânicos na Zona Leste da capital. Além do serviço ambiental, o projeto desenvolve ações de educação ambiental e mobilização comunitária, incentivando moradores e pequenos comércios a adotarem práticas mais sustentáveis no dia a dia. A iniciativa oferece planos de assinatura mensal e busca fortalecer a economia circular no território por meio da transformação dos resíduos em adubo natural.
Marca criada por artista visual é reconhecida por fortalecer o empreendedorismo feminino com base em ancestralidade e sustentabilidade
A Mandinga Biojoias venceu a categoria Empreendedorismo Feminino com uma trajetória que une criação artesanal, sustentabilidade e afirmação cultural. Fundada em 2017 pela artista visual Amanda Dias, a marca trabalha com biojoias feitas à mão a partir de sementes, folhas e outros elementos naturais como alecrim e louro, sempre com atenção aos ciclos da natureza e ao uso de materiais biodegradáveis. A artista também realiza oficinas e processos formativos, compartilhando saberes e criando espaços de escuta e criação coletiva com outras mulheres.
Startup usa inteligência artificial para evitar falhas e otimizar a manutenção industrial
A Monitorai foi a vencedora da categoria Inovação com uma solução voltada à gestão inteligente de ativos industriais. A startup desenvolve tecnologias baseadas em inteligência artificial para prever falhas, monitorar corrosões, detectar vazamentos e aumentar a eficiência na manutenção de equipamentos críticos. Entre os produtos estão ferramentas que analisam dados em tempo real, localizam vazamentos com precisão e acompanham a perda de espessura em tubulações. O trabalho nasceu da inquietação com o modelo reativo que ainda predomina nas indústrias brasileiras e se transformou, após anos de pesquisa, em uma plataforma que oferece manutenção preditiva, integrada e contínua.
Também receberam menção honrosa os negócios Natureza Karuna (Curitiba), É Tudo Pra Ontem (São Paulo), efeito.Circular (Empreendedorismo Feminino) e Bion Global (Inovação).
52 negócios socioambientais foram incubados
O BioCidades Empreendedoras selecionou 64 empreendedores nas regiões de São Paulo e Curitiba. Ao longo de cinco meses, os participantes passaram por um processo completo de incubação, com mentorias individuais, sessões com especialistas e desenvolvimento de oito módulos estratégicos de negócio. O programa registrou mais de 6.300 horas de dedicação na plataforma, com taxa de conclusão de 88%. No total, foram 52 alunos, 44 semifinalistas e 30 finalistas, com R$ 200 mil em prêmios distribuídos. A feira realizada no encerramento reuniu 50 expositores com soluções em alimentos, cosméticos, biojoias, arquitetura sustentável e educação ambiental.
“Ao adotar soluções baseadas na natureza, as emissões de gases de efeitos estufa podem ser reduzidas em até 11,7 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente por ano até 2030, mais de 40% do que é necessário para limitar o aquecimento global. Apoiar empreendedores urbanos que trabalham nessa agenda é estratégico para transformar nossas cidades em motores da sustentabilidade”, ressalta Beatriz Martins Carneiro, representante do escritório do PNUMA no Brasil.
No evento de encerramento, a coordenadora de Agricultura da Prefeitura de São Paulo, Lia Palm, afirmou que desde o processo de seleção dos negócios foi impressionante ver a qualidade dos participantes. “Dá para ver como a formação de redes como o BioCidades Empreendedoras faz diferença. Elas conectam pessoas capazes de mobilizar recursos, a sociedade e as cidades em direção a mais sustentabilidade e soluções regenerativas. Por isso, acredito que hoje não é um encerramento, mas sim um novo começo para todos esses negócios”. Segundo Lia, a participação da Prefeitura de São Paulo foi importante para somar forças às ações e políticas em andamento. “Espero que a gente tenha muitas parcerias ainda com o PNUMA, com Curitiba e o Instituto Legado”, completou.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação da Prefeitura de Curitiba, Paulo Martins, Curitiba acredita no potencial dos empreendedores para impulsionar o desenvolvimento econômico e gerar soluções inovadoras que melhoram a vida nas cidades. “O BioCidades Empreendedoras é um exemplo de como parcerias bem estruturadas podem transformar boas ideias em negócios inovadores e competitivos. Esse tipo de iniciativa estimula a economia local, atrai investimentos e reforça o papel de Curitiba como uma cidade que apoia quem empreende e busca crescer com responsabilidade e eficiência”.
O evento de encerramento foi apoiado pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), conjunto de iniciativas para a promoção de impacto socioambiental e climático positivo na Região Sul do Brasil. Também teve o apoio do Parsifal 21