De 1º a 6 de setembro, Adis Abeba, capital da Etiópia, sedia a Semana do Clima da África 2025 (Africa Climate Week – ACW), realizada em conjunto com a Cúpula Africana do Clima. O encontro reúne representantes de governo, financiadores, empresas, sociedade civil, povos indígenas e comunidades locais para traduzir compromissos em soluções tangíveis que acelerem a ação climática global.
“A Semana do Clima na África é o termômetro do Sul Global: se queremos que Belém seja um ponto de virada na COP30, precisamos ouvir daqui o pulso da crise e das soluções”, diz a presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell.
O Instituto Talanoa participa do evento acompanhando as agendas de adaptação, financiamento climático e transição justa, com atuação tanto nos eventos oficiais como nos paralelos.
O financiamento da adaptação será tema de um encontro de alto-nível com lideranças globais que se reúnem na Etiópia, a convite do Instituto Talanoa em parceria com Instituto Clima & Sociedade (ics) e E3G. O encontro sobre financiamento para adaptação, no dia 4 de setembro, contou com a presença de representantes da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS); Mariam Allam, Lead of the Adaptation Agenda do Climate Champions Team; Joseph Intsiful, representante do Green Climate Fund; Alice Amorim, representando a Presidência da COP, e representantes de países como Dinamarca, Uganda, Alemanha e Reino Unido. O objetivo é contribuir para consensos que possam avançar na COP30, em Belém, e fortalecer a narrativa da complementaridade entre diferentes fontes de financiamento.
A Talanoa está representada em Adis Abeba por sua presidente, Natalie Unterstell, e pelos especialistas em políticas climáticas Rayandra Araújo e Benjamin Abraham, que também participam do Intergenerational Networking Event, encontro que conecta jovens lideranças climáticas a negociadores de alto nível.
“As Climate Weeks funcionam como um laboratório vivo, onde governos, empresas e sociedade civil testam soluções que podem ser levadas à COP30 no Brasil”, explica Rayandra.
Adaptação climática: urgência global
No Brasil, as enchentes de 2024 no Sul custaram cerca de R$ 62 bilhões à União, em resposta emergencial, comprometendo o orçamento federal. Na Espanha, inundações no mesmo ano resultaram em mais de 220 mortes e levaram o governo a solicitar €4,4 bilhões (R$ 26 bilhões aproximadamente) à União Europeia para recuperação.
Apesar da crescente frequência desses eventos, os recursos destinados à adaptação seguem insuficientes. Em 2022, o financiamento global somou US$ 28 bilhões, enquanto a lacuna anual estimada pela ONU varia entre US$ 187 bilhões e US$ 359 bilhões. “Enquanto guerras são tratadas como emergências, a adaptação climática ainda é vista como um problema futuro – e isso precisa mudar”, afirma Rayandra.
Estudos mostram que cada US$ 1 investido em adaptação na América Latina e no Caribe pode gerar até US$ 12 em benefícios econômicos, ao reduzir danos de eventos extremos, custos de reconstrução e perdas de produção. Além de fortalecer a resiliência, investimentos em adaptação diminuem gastos emergenciais e criam bases sólidas para o desenvolvimento sustentável.
Rumo à COP30
As discussões da Semana do Clima da África devem ajudar a alinhar visões sobre o Objetivo Global de Adaptação (GGA) e o Roteiro de Adaptação de Baku (BAR), insumos importantes para as negociações de Belém. “Estamos trabalhando para que a adaptação tenha escala, qualidade e continuidade no financiamento, e que esse tema esteja no centro da agenda política da COP30”, destaca Rayandra.